quarta-feira, 30 de maio de 2012

Cordialidade



A tese da cordialidade inata do povo brasileiro exposta pelo historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda foi mal entendida e criticada.
A ponto de seu autor precisar explicar que não chamara o brasileiro de essencialmente bom ao destacar traços da sua personalidade.
Ninguém melhor do que Sérgio Buarque de Holanda sabia da truculência e da crueldade presentes nas nossas vidas desde as primeiras caravelas.
E com o tempo a “cordialidade” apontada pelo historiador ganhou significados novos e menos nobres.
Hoje é sinônimo do deixa-pra-lá-ismo que domina a moral nacional, e que não deixa de ser uma forma de generosidade com o próximo.
Não somos tanto cordiais como desleixadamente coniventes.
O sentido original da tese do Sérgio Buarque de Holanda foi recuperado, há dias, pelo ministro do Supremo Eros Grau.
Eros atribui as anistias dadas, tanto a recente quanto as outras no nosso passado, à cordialidade inata do povo brasileiro.
Invocar a velha tese da cordialidade para justificar o perdão foi estranho.
Poucas vezes na nossa História a cordialidade brasileira foi tão dolorosamente desmentida como nos porões da última ditadura.
Grau e os outros que votaram contra a revisão da anistia votaram não pela cordialidade, mas pela sua deturpação.
Votaram para deixar pra lá, e pela conivência.

Luiz Fernando Veríssimo

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